… e porque nós achamos ele f***
Trent Reznor vem trabalhando, em parceria com a Beats Electronics (aquela dos fones de ouvido do Dr. Dre), em um novo serviço de streaming de música.
Daisy é uma tentativa de reinventar o mercado de streaming de música dominado por Spotify, Pandora, Rdio, e outros. O músico será Chief Creative Officer do projeto que deverá ser lançado apenas no fim de 2013 e tentará superar os serviços já existentes, especialmente no que diz respeito à inteligência de curadoria para sugerir novas músicas baseando-se nos hábitos de audição dos usuários.
Além de músico, cantor, compositor, multi-instrumentista, produtor musical (a lista é longa), nome a frente e membro único do Nine Inch Nails, o cara já produziu álbum do Marilyn Manson, música do Jane’s Addiction, fez trilhas pra cinema e já ganhou até Oscar e Grand Prix em Cannes. Reznor é inovador, criativo, e sabe trabalhar sua banda como um canal de mídia.
Com uma carreira musical que ganhou destaque lá nos idos de 1989, quando lançou o primeiro álbum do Nine Inch Nails, Reznor poderia ter se tornado um ancião ultrapassado e preso nos antigos moldes do mercado. Mas ele é o oposto disso e não só se adapta bem a novos formatos como muitas vezes está bem a frente deles. Há muito tempo é engajado na busca de novos modelos de negócios para o mercado da música e volta e meia seu nome aparece envolvido em projetos que procuram fugir dos formatos convencionais.
Apesar de hoje em dia ele ter voltado para as grandes gravadoras, em 2008, depois de muitas brigas, – por, por exemplo, vazar música para os fãs antes do lançamento do CD – ele resolveu sair da Interscope (Universal) e criar sua própria gravadora, a The Null Corporation. Sem amarras, Reznor lançou 2 álbuns do NIN sob a licença Creative Commons e disponibilizou-os no site da banda. O primeiro deles em diversos formatos com preços muito baixos, e o segundo através do download gratuito. “This one’s on me”, disse ele. 1.4 milhões de pessoas fizeram download do site.
O ARG Grand Prix em Cannes
Para o lançamento do álbum Year Zero do Nine Inch Nails em 2007, Trent Reznor idealizou um jogo de realidade alternativa (ARG) que mostrou que ainda há muito a ser explorado dentro da lógica de lançamento de música.
Desenvolvido pela 42 Entertainment, o game teve início com uma mensagem codificada nas camisetas da turnê do álbum, e que decifrada levou os fãs a um website.
A partir daí novas pistas foram sendo plantadas em pen drives espalhados por banheiros onde a banda se apresentava, mensagens codificadas geravam números de telefones, e sites criados espalhavam mensagens conspiratórias. Os fãs foram se envolvendo, seguindo as pistas, decifrando os códigos e conhecendo o disco enquanto a história ficcional ia sendo contada ao mesmo tempo. (Veja a linha do tempo do jogo)
Combinando recursos on e offlines, a campanha maximizou a experiência do álbum e conectou banda e fãs em um nível que foi muito além da simples audição. Os fãs foram mobilizados e movidos pela curiosidade, envolvendo-se na busca para solucionar o mistério. Um dos números de telefone decodificado em uma das pistas recebeu mais de 2 milhões de ligações!
Veja o vídeo explicando o projeto:
O game se tornou não só um marco na indústria da música, mas também na da propaganda. A ação soube articular tão bem a banda como um formato de mídia e promover um lançamento gerando de fato entretenimento que foi Grand Prix em Cannes em 2008 na categoria Cyber, e teve até gente achando que Trent Reznor /NIN era uma agência.
No cinema
Em 2010 Trent Reznor aceitou o convite de David Fincher para fazer a trilha do filme A Rede Social, que desenvolveu em parceria com seu amigo Atticus Ross – com quem Reznor e sua mulher Mariqueen Maanding Reznor formam o trio How to Destroy Angels.
Extremamente elogiado, o trabalho recebeu o Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Trilha Sonora. A parceria se repetiu no próximo filme de Fincher, Os Homens que Não Amavam as Mulheres (The Girl with the Dragon Tattoo), que tem na abertura uma versão alucinante de Immigrant Song, o clássico do Led Zeppelin, com vocais da Karen O (Yeah Yeah Yeahs). Nas outras músicas da trilha, – são 39 (!) no total – os vocais ficam por conta de Mariqueen.
É por essas e outras que admiramos tanto o Trent Reznor. Alguém que tem visão de mercado, entende o tempo em que estamos e que tem muito a ensinar a muito publicitário por aí.